sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Um romance de guarda-chuva

Chovia, escutava um blues nos fones de ouvido do celular velhinho. Aquele cheiro de bergamota e de molhado no ônibus, as janelas meio abertas, o pestilento arroio dilúvio lá fora... Desvio o olhar da janela para o banco ao lado, vazio, somente o guarda-chuva de bolinhas.
Uma voz interrompe meus devaneios, "Posso sentar aí?" e o moço de olhos lindos e sobrancelhas grossas se senta ao meu lado. Eu o olho, ele me olha, ficamos assim por duas musicas inteiras. Olho pra janela, olho pra ele. Aquelas paixões de ônibus, em que você sabe que terminarão (terminarão?) quando um dos dois descerem do ônibus. Fiquei divagando, do que ele gosta, o que ele ouve, o que ele lê. Corro os olhos pra mochila dele: UFRGS, não lembro o que.
Minha parada, olho por mais alguns minutos, peço licença e digo tchao. Aperto o botão e desço. Caminhando pela calçada de paralelepípedos ensopada eu sigo pensando no moço dos olhos lindos e cabelos pretos... Do que ele gostaria mesmo? Tomara que não vote... - "Moça! Tu esqueceu teu guarda-chuva..." É ele, eu viro com um sorriso no rosto, quando eu vejo. Camiseta do Marcelo Camelo - "Esse não é meu guarda-chuva." Viro a cara e sigo andando. Foi melhor assim.